Um dia desses, estávamos conversando quando ouvi ela
dizer um xingamento. Admirei-me daquela explosão de raiva e de sua reação e a
resposta foi: “é a convivencia!”
Sorrimos da situação e comecei a filosofar sobre o
assunto.
O que torna certas palavras chulas?
Pelo fato de estar em um pais que poucas pessoas sabem
portugues, estou realmente acostumada a dizer muitas destas palavras,
desabafando das situações cotidianas que
me estressam, e as digo sem o menor pudor! Sinto-me com uma imensa liberdade
vocabular para vociferar qualquer uma dos poucos que conheço e que são mais
usados.
Quando morava no Brasil, evitava esse linguajar por
inúmeros motivos que atualmente não existem mais.
E como é bom extravasar com um belo palavrão naquele
momento exato que o sangue ferve e a única saída para não morrer de um infarto
fuminante é soltar toda raiva pela boca, em alto e bom tom! Que alívio!
Vontando à pergunta: o que torna certas palavras
chulas?
Vamos lá.
Caralho, segundo o dicionario Aurelio da Lingua
Brasileira, que dizer “penis”. Ou seja, parte da genitalia masculina.
Buceta, genitalia feminina.
Filho de rapariga, foi incorporado na época do imperio
para os filhos das moças(raparigas) que eram engravidadas pelos portugues, ja
casados em seu pais, e que muitas vezes deixavam a moça e o filho na colonia,
abandonados. Então passou depois para ser o “filho de mãe solteira” –
claramente um menosprezo ao feminino, ou às mulheres, que não se comportavam
como ditava as normas do sistema, ou da sociedade, ou da religiao, etc... isso
esta na historia brasileira.
Evoluiu depois para “Filho de puta”, pois geralmente
para sobreviver, aquelas moças tinham que se prostituir, pois haviam cometido o
pecado de se apaixonar pelo “homem casado” e com ele ter mantido relações ao
ponto de engravidar. Nenhum outro homem as considerava mais para “casar”, pois
estavam desonradas. Na maioria das vezes eram expulsas de casa pelos proprios
pais. Geralmente nunca haviam frequentado uma escola, pois seriam do povo e o
povo brasileiro não tinha direito a escola,... seria tambem decendente de
escravos... pele morena... tambem sem direito a escola... como essa historia é
velha!
Então, as crianças que não tinham nome de pai na
certidão de nascimento, automaticamente recebiam o “crachá” de “filho de
rapariga”, mais tarde evoluindo para simplesmente “filho da puta” ou “filho de
puta”.
Nossa!!!! Genial!!!
Li recentemente que uma boa parte da população
brasileira não tem nome do pai nos documentos! Então posso dizer, com todo
respeito, que tem uma grande parte da população brasileira que é “Filho da Puta”?
Foi por esse motivo que a comprovação ou seleção
documental se faz pelo nome da mãe, principalmente no famigerado CPF. Tambem
ocorre nos registros policiais, para nomes identicos.
Ia esquecendo o tão comum e vulgar: “Porra”!
Porra é uma clava com saliencia arredondada em um dos
extremos. Tambem pode ser chula se usada para significar o “penis”, ou o “esperma”.
(dicionario Aurelio)
Chegamos a conclusão que todas essas palavras se
tornaram chulas apenas por terem relação direta ou indireta com o sexo!
Não vou me estender nos comentarios que se segiram
durante todo a conversa, altamente filosófica, de como certas palavras “perderam”
seu valor “aristocrata” para se tornarem “chulas”!
Concluimos apenas que foi o perconceito que usou estas
palavras para exprimir toda a raiva, insatisfação, menosprezo, angustia, e ate
mesmo angustia!
Inconscientemente tambem relacionamos estes
sentimentos com o ato sexual, visto durante os últimos milenios como uma coisa
suja e impraticavel se fora do contexto social de familia “sagrada”, ou seja,
aqueles que vão até uma autoridade politica e-ou religiosa para receberam o
consentimento de praticar o sexo, consequentemente, gerar crianças que tambem
serão aceitas socialmente! Todos os outros, não interessando se movidos por um
sentimento maior do que toda e qualquer sociedade denominado “amor”, serão um
relacionamentos considerados “impuro”, “imundo”, ferirão aos “bons” principios
de uma sociedade hipócrita e subjulgada a conceitos infames de dominação.
Agora mais que nunca vou vociferar meus “Caralhos,
Porras, Bucetas e Filhos da Puta” com alto e bom som... estou livre de tanta
hipocrisia!
Que tais palavras sejam louvadas pelo seu significado
original e pelo uso que nos favorece revitalizar a paciencia para continuar
convivendo com um bando de FDP!
Viena, 28.02.16
Wagner, F-M