domingo, 3 de setembro de 2017

Filosofando sobre transgenero - entendendo meu interior.





Estava aqui assistindo um video…dois, sobre homens trans e de repente percebi que preciso me assistir. Preciso perceber como sou homem. Qual a minha visão de mim mesmo diante desta transição e como me comporto como um homem.

Então parei e vou parar de assistir a realidade de outros e começar a olhar para mim mesmo e minha realidade. O que quero mudar nesta realidade. Como me comporto socialmente como um homem e o que isso significa para mim.

Estou em construção de mim mesmo ou estou em exposição do que já havia dentro de mim e estava soterrado pela repressão social que tive?

Acho que o mais importante é ser eu mesmo. Não sou modelo de homem e muito menos de transhomem.

O que foi imposto socialmente e que eu já não tenha quebrado?

Quebrei tantos tabus na minha vida!

Construi uma postura diferente. Minha postura diante dos desafios da vida.

Em um determinado momento me senti fraco, destruido, invalido... e isso me deixou inseguro. Ser mulher é ser fraco e inseguro? Não. Isso não tem nada a ver com o gênero.

Pesquisando sobre homens e mulheres, vi que tudo isso são construções do sistema. São conceitos pré-estabelecidos.

Dentro de um rápido pensamento, uma linha veloz, percebo que estas construções são tão frágeis que podem ser derrubadas por terra com poucos exemplos, e ainda perdura a pergunta do que é ser homem ou mulher.

As posturas, os esteriótipos foram criados pelo sistema. E a diferença começou na biologia. A partir da identificação biológica houve a “separação” dos dois polos.

As funções biológicas prevaleceram para determinar as funções sociais.

Nas últimas décadas tem-se provado que não é bem assim. Homens e mulheres mudaram seus pontos de vista e alargaram as fronteiras provocando uma interseção entre os dois parametros, masculino e feminino. E as funções sociais foram se mesclando baseadas na capacidade intelectural de não mais somente na forma biológica. Até as capacidades físicas foram sendo alteradas ao ponto até de se encontrarem mulheres com mais força física que homens, dependendo apenas de seus modos de vida.

Então onde está a diferença? Qual o porquê deste mundo binário?

Volta-se para a biologia: mulher engravida; homem fertiliza. Contudo existem mulheres que engravidam sem a preseça do macho. Então homem produz SEMEN! 

Ser homem é ser um mero produtor de SEMEM?

E aqueles que são estéreis ou que perderam o penis acidentalmente ou que não tem ereção, deixam de serem HOMENS?

Mulher tem útero para gerar um novo ser.

E aquelas que são estéreis, que tem problemas e não podem engravidar, que nasceram sem útero ou que retiraram o útero por algum problema de saúde? Deixaram de ser MULHER?

Aqui não me refiro em nenhum momento a ORIENTAÇÃO SEXUAL!

Como livre pensador, quero excluir qualquer conceito religioso sobre esse assunto. Todos os conceitos religiosos que conheço são separatistas de dois generos, de dois sexos, e muitos, em sua maioria, veem a mulher como subalterna ao homem. Estas religiões criaram uma sociedade machista e preconceituosa, jogando toda essa merda nas mãos de um deus que eles criaram para conter a massa social sob seu julgo e controle. Elas tambem não me responderam o que é ser mulher ou ser homem, sem as fronteiras do sexo biologico, das funções sociais, da missão dada por deus, dos dogmas divinos que não se discute nem muda, pois foram mandados diretamente do criador para aqueles que tem o poder de falar com o “cara”! puro controle e hipocrisia. E, diga-se de passagem, eu não sou ateu nem agnóstico!

Volto a pergunta inicial: Como é estar MULHER ou estar HOMEM? Ou, o que é ser Mulher ou ser Homem, afinal de contas?

Sempre me senti um homem. Sempre me interessei por coisas que, na minha época, eram consideradas masculinas, apesar de ter sido reprimido. Isso não me fez me interessar por coisas femininas, continuei sendo eu mesmo... reprimido.

Na puberdade senti o que os meninos sentem... porém reprimi, pois ja sabia o que era necessario para minha sobrevivencia.

Na fase adulta, precisava me manter e trabalhar... e para manter o emprego, continuei vivendo disfarçado... e isso não me fez mudar: continuei um homem.

Tive filhos... engravidei e pari... e não me fez mudar: continuei homem, respeitando mais ainda a mulher depois disso. Foi isso que me causou a gravidez e a maternidade: aumentou o meu respeito e meu amor pelas mulheres! Continuei homem.

Usei saia, salto alto (parecia um canguru andando.), me deixei maquiar, usei cabelo comprido, menstruei todos os meses... e isso não me fez mulher: continuei homem! O sofrimento foi imenso, digo de passagem. Odiava o corpo que estava inserido!

O corpo não me fez mulher! A biologia não me fez mulher! A sociedade não conseguiu me matar ou me transformar em mulher!

Continuei homem.

Sou um homem.

Então cheguei a uma conclusão: Ser homem ou ser mulher é um sentimento! É um estado da alma! É intrísseco de cada Ser!

Voltando para meu lado espiritual! 

O espirito não tem sexo, concordo plenamente! Porém o Espírito tem gênero!
O espírito pode ser masculino ou feminino! E faz parte da evolução aprensentar a duplicidade de gênero para se chegar a perfeição em si mesmo.

Ainda sou masculino. Aprendendo um pouco do universo feminino. Porém sou homem.




sábado, 22 de abril de 2017

Memórias de um (trans)homem disfarçado - apresentação



 APRESENTAÇÃO


Já faz algum tempo que me veio a idéia de escrever sobre fatos que vieram à memória durante este ano de terapia. São histórias que estavam tão soterradas dentro de mim mesmo que eu já as havia esquecido, pois a dor era tão intensa que não suportaria revivê-las sem ajuda profissional.

Não sei ainda se isso vai sair daqui, dos arquivos do meu computador, se vou me expor assim, se vou contar estas memórias para os mais jovens que estão vivendo suas experiências nestes tempos de abertura e de violência... violência explícita, pois a violência sempre existiu.

Nem sei tão pouco como vou mostrar isso... se atraves de um livro (seria o terceiro!), ou se o faço pedacinho em pedacinho, como se apresentou em minhas lembrancas, num blog criado exclusivamente para isso. Descartei totalmente a possibilidade de fazer vídeos, exatamente por que nunca me dei muito bem com minha imagem refletida no espelho!

Estas lembranças não seguem uma ordem cronológica linear, pois vão surgindo e se desvaindo aos poucos, outras chegam de madrugada, outras só aparecem quando estou quieto, curtindo as dores que as feridas da alma me provocam. Sei que todos carregamos nossas cicatrizes e não sou mais nem menos sofredor que outras pessoas, contudo passei por vivências próprias que podem ajudar a outros a se entendenrem ou aceitar que a vida pode ser bela, apesar de tudo, e que podemos viver nossa verdade de várias formas.

Nem sempre forte, nem sempre fraco, hoje me considero um sobrevivente! Não me tenho por herói, a não ser de mim mesmo, pois o mais tenebroso caminho que tive que percorrer foi o caminho de dentro, visitando minhas sombras, abrindo portas e baús, num jogo sem ganhadores ou perdedores, apenas as lembranças, estas que estavam entulhadas e impediam que eu visse a luz.

Assim, estou aqui e vou rezar para que eu não sucumba à dor de escrever sobre as memórias que, ora me fizeram chorar diante de uma estranha (minha terapeuta) ora a fizeram rir do modo engraçado como eu as contava, sem que ela percebesse que aquela forma era a fachada que criei para não desmoronar.

Hoje estou uma pessoa de 56 anos, que ainda esta encontrando e juntando os pedaços espalhados dentro da dimenção das lembranças, tentando assim, remontar um Ser que implodiu!

Viena, 19.4.2017
F. W.

Créditos da foto: Google Imagens


terça-feira, 18 de abril de 2017

REVOLUÇÃO INTERNA!




Estava numa lanchonete com meu garoto observando os transeuntes, quando me veio a ideia sobre o tema deste texto: os códigos masculinos.

Engraçado como esses códigos funcionam sem que sejam trocados palavras ou mesmo conhecimento pessoal anterior. Um conhece ou reconhece o outro, e ambos compartilham sensações de respeito mútuo, se nao houver invasão de “territorio”, ou de força para mostrar que está apto a brigar pelo seu poder. Algo meio animalesco sim, e mesmo que muitos venham a dizer que isso não existe, existe sim, e é muito hermético!

O homem é competitivo, e se não o fosse, nosso mundo não o era também, o sistema não o era pois foi construído sob bases de conquista masculina e as mulheres não teriam esquecido que não eram.

O instinto de macho busca a fêmea que está no cio. O instinto do homem também busca a fêmea, e acrescenta a esta busca, o desejo por aquela que pode ser mais fértil e mais bonita de acordo com o seu grupo masculino. Enquanto isso a fêmea humana é na verdade quem escolhe o macho, mas ela tinha se esquecido disso, até começar a relembrar com a revolução do feminismo.

Por que de tanta competição?

Por causa das mulheres!

Incrivel, mas isso realmente é uma verdade esquecida pelo costume, pela repetição sem explicação de geração em geração.

O homem deve ser forte o bastante para “se apropriar” da fêmea, no caso, a mulher, que passa ao seu domínio, pois é ela que detem o poder de procriação e com isso, o futuro daquele clã, daquela familia, daqueles homens mais fortes do grupo, que passaram à prole sua genética juntamente com a da mulher. Além disso, vem acompanhado a idéia de poder pela propriedade, veja que a mulher até bem pouco tempo atras, na sociedade brasileira, não podia dispor de seus bens, de sua herança, sem o aval do marido.

E para os outros homens que a principio eram seguidores do macho alfa, hoje seguidores de homens de poder, ficam as outras que sobraram e que vão procriar mais seguidores, aumentando o poder do clã.

Assim se construiu e ainda se constroe a nossa sociedade, com códigos invisíveis e mudos, porem intelingiveis entre os machos.

E ai daquele que se “desvirtuar”, se afeminando... é uma vergonha para a espécie e para o grupo e deve ser expulso, se não exterminado como exemplo para que a idéia não prolifere.

Assim foi no princípio e ainda continua nos dias de hoje: a selvageria entre os machos do sistema, pois eles detem o domínio dos demais, inclusive do pensamento das mulheres, pois se elas não se submeterem ao seu poder, com certeza serão tambem exterminadas ou reduzidas a qualidade de escravas, sem direitos e sem respeito... sem um macho que as defenda, afinal, são apenas femeas que, do mesmo modo daqueles machos que foram excluidos do sistema, estão se rebelando e tentando tirar o poder das mãos dos machos alfa!

Está sendo cruel a forma como estou explicando o que acontece na nossa sociedade? E não é tão e quão cruel a forma como a sociedade está tratando as pessoas trans?

O questionamento é: nossa humaninade saiu do pensamento selvagem de dominação dos machos alfa? Onde? Pelas leis mais amenas de sistemas democráticos que funcionam na aplicação de penalidades em relação a transfobia, poucos são os países que aceitam tais regulamentos, mas a grande população continua com os mesmos sintomas, continua ainda assimilando e aceitado tacitamente o domínio dos machos alfas, pois foram eles que disseram para se acatar esta ou aquela regra em forma de lei.

Poucos são os países onde uma mulher se faz visivel na politica, sem estar sob a sombra de um homem. São as mulheres que foram escollhidas para procriar os filhos do macho alfa e manter o poder da familia!

Esta na hora da revolução interna! Está na hora de não mais se deixar guiar por regulamentos impostos durante milenios, parar e pensar que o outro tem direito a vida como qualquer um.

Está na hora de ter consciencia que o outro pode viver sua identidade, sem que isso seja uma transgressão aos signos dos machos alfas, pois também chegou a hora de todos perceberem que para mudar o mundo devemos mudar primeiro nossa maneira de viver no mundo.

Está na hora de reconhecer no outro um ser vivo e livre.

Para ter a consciencia desperta de que não somos meros animais, vinculados aos genitais deixando a energia fluir apenas pelos tres chakras inferiores, podemos evoluir para os chakras superiores, onde encontraremos o coração, o amor que une os seres, independentemente de seus genitais.

A idéia de ser homem precisa ser revolucionada!

O signo de ser homem ja não faz sentido em ser o dominante do grupo, e sim o cúmplice do outro, o parceito, de quem quer que seja, na construção dos objetivos coletivos.

A visão que a mulher é tão e quanto capaz de realizações quanto o homem, nos mostra que esse conceito de macho está ultrapassado!

Esta revolução ocorreu dentro de mim, pois como um homem disfarçado, vivi num corpo de mulher e observei como a sociedade realmente se comporta.

Sou um observador do espaço e hoje posso revelar que mesmo homem, mesmo tendo um corpo que me ajudasse a suportar a carga feminina, o processo não é facil. Nunca consegui ser uma mulher... mesmo tendo parido.

E durante essa vida, meu pensamento mudou, e mudou muito.

Eu também cheguei aqui com os mesmos signos masculinos bem encrustados na memória. Eu entendia os olhares entre os homens e tive que aprender como não demonstrar abertamente este reconhecimento! Seria muito perigoso, num corpo feminino, saber dos “segredos” masculinos.

Hoje percebo que a evolução está em aceitar os dois em si mesmo, ser masculino e feminino ao mesmo tempo, pois são duas forças que ao se unirem criam a vida! E estas forças não estão circunscritas ao fato de ter nascido homem ou mulher, estão muito mais ligadas à forma de ser de cada um, independente de seus órgãos genitais. E vou mais além, tanto homens quanto mulheres possuem em si a capacidade de desenvolver estas forças, tornando-se, assim, serem de luz.

Continuo sendo um homem, apesar de disfarçado, mas entendo o quão grandioso é o universo feminino e não me assusto mais, pois deixar que esse universo se una ao meu universo masculino so me trouxe crescimento e expansão de consciencia.

O sanduiche acabou e precisamos ir para casa...


Viena, 18.4.2017

FWagner

sábado, 1 de abril de 2017

Voce que sabe.



Quando se chega para alguém, que temos como amigo-a, e passamos a nos expor, falando de um problema ou de uma dúvida, e se escuta a resposta: “Você que sabe.”, eu a entendo da seguinte forma: “Olha, não me interessa seus problemas. Nem cheguei a ouvir sua estória ou sua dúvida, pois estava pensando nos meus problemas. Sabe, eu também tenho problemas e sou bastante egoísta para me interessar apenas por eles, pois se não consigo resolver os meus, vou poder resolver os seus? Tenha a santa paciencia!

As pessoas esqueceram que opinando sobre o problema ou a dúvida de alguém, estão, no mínimo, se colocando em seu lugar. Além disso, ao emitir um conselho ou opinião sobre o assunto, muitas vezes encontram a solução para seus próprios problemas, pois é assim que o universo se comunica conosco: através da boa vontade de ajudar o outro, o próximo, que está ali, muitas vezes sangrando sem sangue ou chorando sem lágrimas.

Da próxima vez que alguém pedir sua opinião, escute! Escute com o seu coração aberto. Escute e vá se colocando no lugar daquela pessoa. Faça perguntas, que você faria a você mesmo-a, tentando entender melhor a situação.

Quem está de fora sempre poderá ver melhor do que aquele que está sofrendo.

Você nunca vai decidir nada por ninguém. Você nunca vai seguir o caminho de ninguém. Contudo uma opinião, uma palavra dita de forma amorosa, se não indicar o caminho a ser seguido pelo outro, vai lhe avaliar a dor; será o analgésico amoroso daquele tormento chamado dúvida.

E ao fazer isso, faça por amor e nunca espere retribuição. As palavras são trazidas pelos ventos e levadas por eles também.

Depois da doença, muitas vezes esquecemos o nome dos remedios que tomamos, pois estávamos tão doentes que nem mesmo os percebemos.

Seja um transmissor das palavras do Universo!


Fwagner

Viena, 31.março.2017

domingo, 25 de dezembro de 2016

Segredos de um Prisioneiro



Segredos de um Prisioneiro


Nunca pensei que um dia tivesse a coragem de falar diretamente sobre isso. É uma dor tão bem guardada desde a infancia, uma tristeza e uma apatia pela vida... que vida?

Dediquei-me a espiritualidade com o objetivo de “corrigir”, aceitar nunca, curar sim, entender o porque deste castigo, deste carma.

Sempre me senti numa prisão. Uma prisão de mim mesmo, escondido entre sorrisos e loucuras. Na solidão, dei vazão a fantasia, que me beneficiou sempre, afastando de mim o desespero e o encontro com a morte. Aliviou a dor de me olhar no espelho e de ouvir meus filhos me chamando de mãe.

Tentei de tudo para encontrar a cura. Tentei de tudo esconder de mim e do mundo a aberração que eu via em mim. Eu nunca consegui ser feminina como era pra ser. Eu nunca me senti mulher. Eu sempre me senti um homem aprisionado, oprimido, culpado, julgado e jurado de morte.



No trabalho, ainda bem, tinha momentos que me sentia muito bem. Fui policial e podia então ter meu jeito desengonçado de ser mulher muito macho.

Construi um personagem socialmente aceito, pois no meu tempo de adolecente falar sobre esse assunto era tabu e eu nem conhecia ninguem igual a mim. Não conhecia nem um gay masculino, quanto mais feminino. E eu nunca me considerei gay, ficava com ódio quando me chamavam de lésbica, o que foi pergunta do meu teste para entrar na polícia. Incoerentemente ou por questão de sobrevivencia, eu neguei, por que sempre neguei minha condição. Sempre neguei a mim mesmo. Chorei na ocasião, não sei se de raiva ou desespero por terem percebido meu grande “defeito”.

Tendo sido criada como filha única numa familia católica, não tinha irmãos e irmãs para me vigiarem ou descobrirem meu segredo. No começo eu sentia falta deles. Achava que com eles tudo teria sido diferente... hoje eu agradeço por ter sido assim.

Eu trancava meu quarto e mantinha minhas coisas uma bagunça total, onde somente eu entrava e conseguia me entender. Assumi o compromisso de limpeza dele assim que menstruei a primeira vez.

Comecara, então, as mudanças naturais do corpo e o meu castigo. Era um tormento, a pior sensação que tive durante minha vida. Aquela esperança de criança de dormir menina e acordar menino nunca iria acontecer de verdade. Fora uma ilusão, um solho frustrado.

Restava-me a fantasia!

Na realidade restava a morte lenta e dolorosa do cotidiano, onde deixava de viver e ia seguindo adiante conforme os paradigmas.



Casei, tive filhos, namorei com rapazes quando estava apaixonado por uma menina e queria me curar ou me punir do tremendo pecado que estava cometendo.
Nunca me senti tão imundo quando das relações que tive com homens. E qualquer um que chegasse perto de mim com essas intenções corria serio risco de vida, pois eu so pensava em mata-lo ou me matar. Era a punição de um grande pecado que eu deveria ter praticado em vidas passadas! Eu devia ser infeliz a vida inteira, neste corpo horrível!

Ainda bem que nunca tive coragem suficiente para isso, pois das duas últimas vezes que pensei seriamente no assunto, foi a visão dos meus filhos pequenos que me removeram ou adiaram a ideia de suicídio.

Hoje tenho um filho de onze anos! A idéia continua adiada.

Assistindo recentemente videos vejo que para os jovens que passam pela mesma situação de descobertas que passei, existem saídas. Para mim não existe mais. Estou no meu modo andrógeno de sempre. Nem uma coisa nem outra e totalmente sem esperança de ainda ser feliz.

Frustrado? Não. Eu consegui viver com meus dilemas e construi coisas lindas. E tentei me destruir sempre. E sempre me reconstruia em cima das minhas próprias cinzas. Sempre por um motivo externo de mim. Minha vida comigo sempre foi uma merda!

Hoje estou novamente aqui, me sentindo mal. Mas sei que isso vai passar. Sempre passou. Sei que fiz escolhas e vou com elas até o fim. Sei que estou sozinho nesta e vou continuar sozinho, ou aparentemente sozinho. Vou continuar vivendo, contudo sem me punir. Quero a liberdade de ser apenas eu mesmo, sem explicar nada pra ninguem e isso a idade me da a cobertura suficiente... velhos ninguem olha, ninguem entende, ninguem quer saber, ninguem quer contato!



Eu sou velho, velho por dentro, cansado de fingir que sou outra pessoa, cansado de vestir uma personagem, cansado de exposição. Quero ficar comigo e chegar ao fim com tranquilidade de ser apenas eu mesmo de preferencia numa casa sem espelhos.

Eu sempre fui um homem disfarçado. Já não quero mais me fantasiar de mulher! Evito as roupas e os trejeitos que me obriguei a aprender, para fazer parte do grupo, o mesmo grupo que hoje despreso.

Eu não gosto de gente. Eu não gosto de pessoas e nem do que elas pensam ou falam. Eu não quero ninguem. Eu quero ser apenas eu mesmo e somente poderei ser eu mesmo em paz se estiver sozinho, no meu lar, no meu interior.



Dentro de mim eu tenho paz, eu sou paz. Dentro de mim eu sou livre. Dentro de mim eu sou apenas eu mesmo, sem rotulos, sem gêneros, sem obrigações, sem diferenças, sem preconceito.



Hoje, 05.05.16, revisado e reescrito em 25.12.16

Eu.


FWagner


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Essa tal felicidade...



ESSA TAL FELICIDADE!

Hoje aproveitei para observar os rosto das pessoas que cruzavam comigo ou que utilizavam o mesmo transporte público. Quem eu procurava? Um rosto feliz! Depois, um rosto alegre! Depois, um rosto saudável!

O que observei passivamente?

Apesar de estar tranqüilo eu vi rostos fechados, preocupados, raivosos, tristes, apressados... mas não encontrei os que procurava. Sorri para alguns que nem perceberam. Outros estavam absortos em seu mundo de fantasia (virtual) mantendo-se fechados para os próximos que lhe circundavam o ambiente, vivendo em verdadeiras bolhas de ilusão ou isolamento com os velhos e conhecidos amigos, sem se abrirem para o novo.

Tudo bem, pensei. A escolha de cada um. Assim são felizes.

Vi sorriso no rostinho de crianças que mães preocupadas e apressadas levavam para a escola ou creche! Elas ainda demonstram a felicidade da infancia e a inocencia.

Então perguntei: Querida, onde estão os felizes?

Ela me respondeu: “Você acha mesmo que há muitos felizes neste mundo? Se a maioria fosse feliz não existiriam religiões, autores de livros de auto-ajuda não enriqueceriam, psicólogos e psiquiatras teriam que mudar de profissão, e assim por diante. A felicidade não precisa de ajuda, não traz solidão, não deixa o coração vazio; a felicidade é o balsamo da alma saudável.

“O mundo, a sociedade é incapaz de produzir felicidade. Todos estão tentando. Poucos encontraram a fórmula ideal, e ainda assim, existem momentos difíceis. Lembra da letra daquela música que gosto tanto... “viver é simplismente compreender a marcha e seguir em frente”... cada um no seu ritmo em busca da satisfação, do prazer, interior e/ou exterior. Porem vivemos todos juntos e misturados e não nos compreendemos e nem a nós mesmos.”

Ela parou. Havia chegado o momento de seguirmos rumos diferentes.

Um sorriso, uma piscada de olho: nosso jeito de dizer até mais tarde e eu te amo.

Continuei refletindo em suas palavras. Realmente ela tinha razão, como sempre, aliás.

Então qual foi a fórmula da nossa felicidade?

Compreendemos nossa marcha e estamos caminhando como todos neste mundo para a convivência pacífica. Conseguimos nos entender em plenitude. Deixamos de lado muitas coisas para vivermos juntos e não cobramos do outro essa “dívida” por que somos conscientes que o fizemos por que queríamos. Sabemos que tudo passa e aproveitamos os pequenos momentos juntos para sorrir e viver o agora sem trazer para nossa cama ou para nosso relacionamento as dores e mágoas do passado. Viramos as páginas diariamente, deixando registrados momentos de ternura, compreensão e companheirismo. Não nos cobramos “fidelidade” e com isso não sentimos ciúme um do outro nem, tão pouco, a “obrigação” de estar juntos. Entendemos a nossa humanidade e nossa imperfeição, sendo realistas quanto ao outro, construindo um relacionamento sem fantasias. Eu não espero nada dela e ela nada de mim. A cada dia nos conhecemos e a química continua dando certo e vamos nos envolvendo com o todo.

Sei la! São tantas coisas pequeninas do dia-a-dia e acho que a fórmula não existe. Não há caminho certo ou errado. Não existe modelo ou perfeição.

A vida é como andar num fio esticado entre os picos de duas montanhas, com um abismo profundo sob nossos pes. Requer equilíbrio e concentração para cada passo.

Continuei meu caminho e parei de pensar sobre o assunto.

Voltei a viver o presente!



F. Wagner

Viena, 28.11.16

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

SE condicional




SE….

Estava voltando para casa um dia desses e olhando para o céu, falei para ela: „Já pensou se eu tivesse nascido um menino... como eu teria vivido plenamente!”

Ela olhou pra mim e me forcou gentilmente a parar, ali mesmo, no meio da calçada. Olhou bem dentro dos meus olhos, como sempre faz e perguntou? – “Você não esta vivendo plenamente? O que lhe falta? E porque o “se”?”

Então vi que de alguma forma meu devaneio a tinha atingido; ela revidou com uma pergunta inteligente que me fez pensar e buscar as respostas.

Continuamos andando para pegar o onibus para casa. E durante o caminho, calado, fui pensando...

A partícula “se” como pronome é condicional, isto é, declara uma condição.

Como condição, não é verdadeira a informação que ela expõe, e sim um desejo ou um fato que não aconteceu e/ou nunca vai acontecer... ou uma condição para que algo que queremos aconteça.

Quando usado para os outros ou para uma coletividade, torna-se uma condição de conduta para a qual se receberá a recompensa que se deseja.

Então o “se” qualquer coisa é muito perigoso. Pode ser instrumento de manipulação, de controle, até mesmo social (veja-se no caso das normas), de chantagem inclusive e mais freqüente, a chantagem emocional.

O “se” pode nos deixar frustrados quando usamos contra nós mesmos e é exatamente deste “se” que quero falar.

Quando eu uso o “se” em relação a algo da minha vida que não aconteceu e eu acho que teria sido melhor “se” aquela condição houvesse acontecido, estou me julgando, estou insatisfeito com minha conduta, ou com o resultado de todas as atitutes que me trouxeram até o presente.

Normalmente nunca pensamos que “se” tivesse acontecido, nosso presente seria outro totalmente diferente do que é agora. E será que estariamos mesmo mais felizes? Será que tínhamos conhecido as mesmas pessoas? Será que teríamos tido as mesmas experiências?

Algo mudando no passado, o futuro que não existia naquele momento, tambem mudaria. Mil possibilidades! Milhões de possibilidades. O futuro é uma possibilidade entre milhões.

A verdade é o fato. O que acontece e a gente vive no hoje é a nossa verdade. Tentar imaginar uma mudança no passado para que tivéssemos outros fatos no presente, no mínimo, é frustração com o presente; não aceitacao dos fatos como realmente são; infelicidade!

Concluo que, usar o “se” mesmo num devaneio é estar julgando meu passado como errado. Estando insatisfeito com o passado, significa que estou insatisfeito com o presente e que estou me julgando desfavoravelmente.

Por que fazer isso comigo?

Por que me julgar desta forma?

Estando insatisfeito com o presente, nunca vou poder mudar o passado. É mais viavel mudar o presente para que tenha outras possibilidades de futuro. Aceitar o passado e aprender a mudar no agora me torna mais feliz por ter consciencia de que nunca errei. Eu acertei em tudo que fiz. Eu fiz o melhor que podia dentro das circunstancias daquele momento. E hoje reconheço como vitórias todas as verdades, todos os fatos, pela resposta do presente. Foi exatamente no passado que construi este presente.

Estou feliz.

Por isso, antes mesmo que chegassemos na parada do onibus, eu lhe fiz parar do mesmo modo e lhe beijei gentilmente a testa agradecendo aquelas perguntas que me fizeram meditar.


Viena, 13 .12.2016