sábado, 22 de abril de 2017

Memórias de um (trans)homem disfarçado - apresentação



 APRESENTAÇÃO


Já faz algum tempo que me veio a idéia de escrever sobre fatos que vieram à memória durante este ano de terapia. São histórias que estavam tão soterradas dentro de mim mesmo que eu já as havia esquecido, pois a dor era tão intensa que não suportaria revivê-las sem ajuda profissional.

Não sei ainda se isso vai sair daqui, dos arquivos do meu computador, se vou me expor assim, se vou contar estas memórias para os mais jovens que estão vivendo suas experiências nestes tempos de abertura e de violência... violência explícita, pois a violência sempre existiu.

Nem sei tão pouco como vou mostrar isso... se atraves de um livro (seria o terceiro!), ou se o faço pedacinho em pedacinho, como se apresentou em minhas lembrancas, num blog criado exclusivamente para isso. Descartei totalmente a possibilidade de fazer vídeos, exatamente por que nunca me dei muito bem com minha imagem refletida no espelho!

Estas lembranças não seguem uma ordem cronológica linear, pois vão surgindo e se desvaindo aos poucos, outras chegam de madrugada, outras só aparecem quando estou quieto, curtindo as dores que as feridas da alma me provocam. Sei que todos carregamos nossas cicatrizes e não sou mais nem menos sofredor que outras pessoas, contudo passei por vivências próprias que podem ajudar a outros a se entendenrem ou aceitar que a vida pode ser bela, apesar de tudo, e que podemos viver nossa verdade de várias formas.

Nem sempre forte, nem sempre fraco, hoje me considero um sobrevivente! Não me tenho por herói, a não ser de mim mesmo, pois o mais tenebroso caminho que tive que percorrer foi o caminho de dentro, visitando minhas sombras, abrindo portas e baús, num jogo sem ganhadores ou perdedores, apenas as lembranças, estas que estavam entulhadas e impediam que eu visse a luz.

Assim, estou aqui e vou rezar para que eu não sucumba à dor de escrever sobre as memórias que, ora me fizeram chorar diante de uma estranha (minha terapeuta) ora a fizeram rir do modo engraçado como eu as contava, sem que ela percebesse que aquela forma era a fachada que criei para não desmoronar.

Hoje estou uma pessoa de 56 anos, que ainda esta encontrando e juntando os pedaços espalhados dentro da dimenção das lembranças, tentando assim, remontar um Ser que implodiu!

Viena, 19.4.2017
F. W.

Créditos da foto: Google Imagens


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