SE….
Estava voltando para casa um dia desses e olhando para
o céu, falei para ela: „Já pensou se eu tivesse nascido um menino... como eu
teria vivido plenamente!”
Ela olhou pra mim e me forcou gentilmente a parar, ali
mesmo, no meio da calçada. Olhou bem dentro dos meus olhos, como sempre faz e
perguntou? – “Você não esta vivendo plenamente? O que lhe falta? E porque o “se”?”
Então vi que de alguma forma meu devaneio a tinha
atingido; ela revidou com uma pergunta inteligente que me fez pensar e buscar
as respostas.
Continuamos andando para pegar o onibus para casa. E durante
o caminho, calado, fui pensando...
A partícula “se” como pronome é condicional, isto é,
declara uma condição.
Como condição, não é verdadeira a informação que ela
expõe, e sim um desejo ou um fato que não aconteceu e/ou nunca vai acontecer...
ou uma condição para que algo que queremos aconteça.
Quando usado para os outros ou para uma coletividade,
torna-se uma condição de conduta para a qual se receberá a recompensa que se
deseja.
Então o “se” qualquer coisa é muito perigoso. Pode ser
instrumento de manipulação, de controle, até mesmo social (veja-se no caso das
normas), de chantagem inclusive e mais freqüente, a chantagem emocional.
O “se” pode nos deixar frustrados quando usamos contra
nós mesmos e é exatamente deste “se” que quero falar.
Quando eu uso o “se” em relação a algo da minha vida
que não aconteceu e eu acho que teria sido melhor “se” aquela condição houvesse
acontecido, estou me julgando, estou insatisfeito com minha conduta, ou com o
resultado de todas as atitutes que me trouxeram até o presente.
Normalmente nunca pensamos que “se” tivesse
acontecido, nosso presente seria outro totalmente diferente do que é agora. E
será que estariamos mesmo mais felizes? Será que tínhamos conhecido as mesmas
pessoas? Será que teríamos tido as mesmas experiências?
Algo mudando no passado, o futuro que não existia
naquele momento, tambem mudaria. Mil possibilidades! Milhões de possibilidades.
O futuro é uma possibilidade entre milhões.
A verdade é o fato. O que acontece e a gente vive no
hoje é a nossa verdade. Tentar imaginar uma mudança no passado para que tivéssemos
outros fatos no presente, no mínimo, é frustração com o presente; não aceitacao
dos fatos como realmente são; infelicidade!
Concluo que, usar o “se” mesmo num devaneio é estar
julgando meu passado como errado. Estando insatisfeito com o passado, significa
que estou insatisfeito com o presente e que estou me julgando desfavoravelmente.
Por que fazer isso comigo?
Por que me julgar desta forma?
Estando insatisfeito com o presente, nunca vou poder
mudar o passado. É mais viavel mudar o presente para que tenha outras
possibilidades de futuro. Aceitar o passado e aprender a mudar no agora me
torna mais feliz por ter consciencia de que nunca errei. Eu acertei em tudo que
fiz. Eu fiz o melhor que podia dentro das circunstancias daquele momento. E
hoje reconheço como vitórias todas as verdades, todos os fatos, pela resposta do
presente. Foi exatamente no passado que construi este presente.
Estou feliz.
Por isso, antes mesmo que chegassemos na parada do
onibus, eu lhe fiz parar do mesmo modo e lhe beijei gentilmente a testa
agradecendo aquelas perguntas que me fizeram meditar.
Viena, 13 .12.2016
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